O petróleo é deles
A variável China voltou a assustar os negócios hoje, com a queda de 6% em Xangai roubando a cena no exterior, onde o vaivém do petróleo também vem ditando o sobe-e-desce dos mercados internacionais. Enquanto isso, no Brasil, o governo abriu mão da Petrobras ser a única operadora do pré-sal. O Senado aprovou por 40 votos a 26, o projeto que altera as regras de participação da estatal na exploração da camada, emplacando as mudanças propostas pelo tucano José Serra.
O PT votou contra a medida, que segue agora para apreciação na Câmara. Temendo uma derrota, o governo cedeu em vários pontos, mas manteve o direito de preferência da Petrobras ser a operadora nos consórcios - caso desejar. A participação mínima é de 30%, sendo que os blocos devem ser indicados pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
As mudanças no marco legal do pré-sal abrem às portas ao investimento do capital estrangeiro à camada, sendo que, desde a descoberta, em 2006, os poços explorados pela Petrobras têm índice de sucesso superior a 90%. Trata-se de um porcentual bem acima da eficiência de 30% a 40%, na média, obtida pelas maiores petrolíferas globais, em termos de exploração.
A empresa, aliás, sofreu ontem à noite um corte em três degraus, de uma só vez, na nota de crédito avaliada pela Moody's, de Ba3 para B3, na esteira do rebaixamento do rating do Brasil. Assim como no caso do risco soberano, a perspectiva para a nota da Petrobras permaneceu negativa e reflete o ambiente atual de desafios no país.
Apesar do esperado downgrade pela terceira e última grande agência de classificação de risco, a Bovespa chegou a cair mais de 3% na sessão de ontem. Ao final, contudo, fechou em baixa ao redor de 1%, em meio à estabilização dos preços do petróleo no exterior, o que amenizou as perdas em Nova York. Por aqui, a queda foi liderada pelas ações da blue chip petrolífera, mas hoje o papel deve reagir à notícia vinda de Brasília em sentido contrário.
Aliás, o noticiário corporativo deve ditar o ritmo dos negócios na Bolsa, com a safra de balanços a pleno vapor. Pela manhã, nada menos que Banco do Brasil, Ambev e Vale publicam seus resultados financeiros do quarto trimestre e do acumulado do ano passado. Após o fechamento, é a vez de BRF, entre outras.
Só que os negócios locais podem tentar dificuldades em desviar do sinal negativo vindo dos mercados emergentes, após o tombo de 6,42% do índice Xangai Composto, na maior queda em mais de um mês, pesar na performance dos ativos de maior risco. A Bolsa chinesa apagou quase 10% da recuperação iniciada desde a mínima do ano em janeiro, acumulando perdas de 23% em 2016, atrás apenas da Grécia.
O salto da taxa de dinheiro overnight na China, que mede a liquidez do sistema financeiro e que registrou a maior alta desde o início deste mês é responsável pela forte realização entre os ativos mais arriscados. Além disso, o yuan offshore chinês caiu pelo quinto dia, pesando nas moedas correlacionadas às commodities e dificultando a imagem de estabilidade no mercado que o país asiático tenta passar em meio aos encontros do G-20 em Xangai.
Hoje, o presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, desloca-se para a China, ao passo que o diretor do BC Tony Volpon tem reuniões de trabalho em Pequim. Os demais diretores que ficaram no Brasil participa de reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Por sua vez, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tem reunião com o vice-presidente chinês da Comissão de Desenvolvimento Nacional e Reforma (NDRC), Ning Jizhe.
Na agenda econômica do dia, o destaque doméstico fica com os números fiscais do governo central (Previdência, Banco Central e Tesouro) em janeiro. A previsão é de um superávit primário de R$ 14,5 bilhões. É válido lembrar que os dados a serem divulgados hoje já estarão sob nova metodologia. Nela, a apresentação de receitas e despesas é feita conforme decreto de programação orçamentária e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Assim, na arrecadação, as receitas serão separadas entre administradas e não administradas, enquanto a despesa de cada ministério será apresentada separadamente, bem como as do Banco Central, que serão incorporados aos gastos com pessoal da União. O documento será divulgado às 13h30.
Também merece atenção nesta quinta-feira a taxa de desemprego em regiões metropolitanas do país, calculada pelo IBGE. O indicador, referente a janeiro, deve saltar para a faixa de 8% (7,8% na mediana), o que, se confirmado, será o maior patamar para o mês desde 2009, quando estava em 8,2%.
Com isso, a taxa de desemprego deve sair dos níveis de junho de 2015, onde estava em dezembro (6,9%), e retroceder ao nível de outubro do mesmo ano (7,9%). Os números efetivos serão conhecidos às 9h. Antes, às 8h, saem as sondagens do mês da construção e ao consumidor, da FGV, juntamente com os custos da construção (INCC-M) em fevereiro.
No exterior, a Europa abre o calendário de indicadores do dia logo cedo, com a divulgação da leitura final de janeiro do índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro (7h). O dado deve calibrar as apostas por mais estímulos monetários na região, no mês que vem, a serem adotados pelo comandante do Banco Central europeu (BCE), Mario Draghi.
Fora da região da moeda única, a nova leitura dos números do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido no trimestre passado e no acumulado de 2015 deve ser ofuscada pela discussão sobre a eventual saída da ilha do bloco comum da União Europeia (UE), o chamado “Brexit”. A libra esterlina segue sob pressão nesta manhã, mas com perdas mais moderadas e é ainda cotada abaixo de US$ 1,40. As principais bolsas europeias sobem.
Já nos Estados Unidos, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país (10h30), juntamente com as encomendas de bens duráveis no mês passado. Às 11 horas, é a vez dos preços de imóveis em cidades norte-americanas em dezembro. Os índices futuros das bolsas de Nova York têm perdas moderadas, sob impacto da China e da queda do petróleo nesta manhã.