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Rali global vacila


A recuperação global dos mercados financeiros não teve forças para se estender nesta terça-feira, com as renovadas preocupações sobre a economia chinesa embutindo o sinal negativo nos ativos de riscos e indo desde a Ásia, passando pela Europa e chegando em Nova York. Trata-se de um movimento de realização dos lucros recentes, que ainda não chegou ao petróleo WTI, mas que deve testar o fôlego dos mercados domésticos hoje, após o rali de ontem.

A proximidade da Operação Lava Jato ao Palácio do Planalto acirrou de vez o ânimo dos mercados domésticos, após a prisão temporária do jornalista e publicitário João Santana, no âmbito da 23ª fase, chamada “Acarajé” e deflagrada pela Polícia Federal. Ontem, a Bovespa subiu mais de 4%, já nos 43 mil pontos, e o dólar caiu pouco menos de 2%, cotado abaixo de R$ 3,95, com a sensação de que o cerco estaria se fechando em torno da presidente Dilma Rousseff.

Liderados pelo PSDB, os partidos de oposição querem reforçar a tese de que dinheiro do chamado “petrolão” serviu para pagar despesas da campanha presidencial petista, abrindo caminho para empossar o senador Aécio Neves. O julgamento do renovado desejo em cassar a atual chapa presidencial via o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ser presidido pelo ministro Gilmar Mendes.

A questão é que os pagamentos feitos pela Odebrecht ao marqueteiro ainda não foram provados, nem julgados. Em sua defesa, Santana irá dizer que "nenhum centavo" recebido em suas contas no exterior provém de campanhas brasileiras - e sim de campanhas feitas em países estrangeiros. Mas o mercado, como se sabe, se antecipa aos fatos e a remuneração pelo trabalho de Santana virou munição para as manifestações marcadas para 13 de março.

Até lá, o motivo para tanta animação que se viu nos pregões locais pode ter novos desdobramentos, para o bem ou para mal dos negócios. No exterior, o recente ânimo dos investidores se esvaiu, após os primeiros indicadores deste mês sobre a China mostrarem que a segunda maior economia do mundo ainda não atingiu o fundo do poço.

A leitura de índices privados dos gerentes de compras (PMI), medido pelo Minxin, caiu a novas mínimas, tanto para o setor industrial quanto para o de serviços, a 37,5, cada, destacando a necessidade de estímulos adicionais à atividade chinesa. Além disso, a confiança do empresariado caiu, enquanto o interesse na abertura de pequenas e médias empresas ficou menor.

Se confirmada essa percepção pelos indicadores oficiais do país, a China pode dar sinais de que a desaceleração econômica está se aprofundando. Em reação, a Bolsa de Xangai saiu do nível mais alto em um mês e fechou em queda de 0,83%, contaminando a performance das demais bolsas asiáticas e também dos mercados emergentes, que saíram das máximas em seis semanas.

Tóquio cedeu 0,37% e Hong Kong caiu 0,25%. Entre as moedas, o yuan chinês também fechou em baixa, após o Banco Central do país (PBoC) promover a maior redução da taxa diária de referência em seis semanas. Contudo, o ringgit malaio, a rupia indonésia e o won sul-coreano testam forças ante o dólar. Já a libra esterlina segue em queda ante a rival, após registrar o maior tombo desde 2010, ontem, diante dos receios pelo "Brexit".

As principais bolsas europeias também abriram em queda, afastando-se do maior patamar em três semanas, afetadas pela queda do índice Ifo de confiança na Alemanha ao menor nível em quatro anos. Os índices futuros das bolsas de Nova York também se retraem. Nem mesmo o alento vindo vem do petróleo tem força. O barril do WTI segue negociado acima de US$ 30, mas devolveu parte do rali da véspera durante as negociações asiáticas. Os metais básicos recuam.

Com a política em cena no Brasil, os indicadores econômicos do dia devem ficar em segundo plano. Às 8h, sai a leitura semanal dos preços ao consumidor (IPC-S) da FGV, juntamente com a sondagem preliminar da indústria neste mês. Depois, às 9h, é a vez da prévia da inflação oficial no varejo brasileiro em fevereiro, medida pelo IPCA-15.

As estimativas são de um índice ainda salgado, acima da faixa de 1% (1,30% na mediana das expectativas), com os alimentos e os reajustes das tarifas de transporte público ainda pressionando. Com isso, o resultado em 12 meses deve acelerar a 10,75%, reforçando a dificuldade no trabalho do Banco Central em convergir a inflação ao limite superior da banda (6,5%), sem apertos adicionais nos juros básicos (Selic).

Aliás, às 10h30, a autoridade monetária entra em cena para publicar a nota do setor externo no mês passado. Na safra de balanços, saem os resultados trimestrais e do acumulado de 2015 das “elétricas” AES Tietê, Eletropaulo e Tractebel, além da Via Varejo (dona das marcas Casas Bahia e Pontofrio) – todos após o fechamento do mercado.

Nos Estados Unidos, às 11 horas, saem índices de preços de imóveis residenciais em cidades norte-americanas em dezembro. Depois, às 12 horas, serão conhecidos o índice de atividade industrial na região de Richmond neste mês; o índice de confiança do consumidor do país em fevereiro e as vendas de imóveis existentes em janeiro.

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