Mercado ainda absorve sinais do BC dos EUA
Os investidores ainda ecoam hoje o depoimento da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, ontem, em dia de agenda econômica esvaziada pelo mundo. Os sinais suaves (“dovish”) de que o Fed não terá pressa em subir os juros, mas também não irá abandonar o plano de elevar as taxas dos Fed Funds, provocam um comportamento misto nos ativos. O dólar cai, mas o petróleo também, assim como as bolsas no exterior.
Em linhas gerais, Yellen manteve a porta aberta em relação à decisão de juros em março, diante dos sinais de recuperação do mercado de trabalho norte-americano. Porém, ao mesmo tempo, ela salientou os riscos externos à economia dos Estados Unidos, vindos principalmente da China e dos países produtores de commodities, além do petróleo em si.
Dessa forma, Yellen descartou a possibilidade de reversão do ciclo de aperto monetário, iniciado em dezembro do ano passado, mas observou que o ritmo gradual de alta dos Fed Funds vai depender da turbulência financeira, o que pode alterar o prognóstico de quatro aumentos nos juros ao longo de 2016. Isso porque a perspectiva econômica global é incerta.
A orientação da política monetária nos EUA deve, então, seguir acomodatícia, rumo à normalização dos juros no país, o que instiga uma busca por ativos seguros e afugenta o apetite por risco. Yellen disse ainda que não há uma determinação legal sobre a possibilidade de o Fed adotar juros negativos, nem algo que impeça o colegiado em fazer isso, mas observou que se trata de uma questão que necessita de uma investigação mais profunda.
Em reação, as bolsas de Nova York fecharam em baixa ontem e os índices futuros estendem as perdas nesta manhã, contaminando a abertura da sessão na Europa. Nos mercados emergentes, as moedas desses países ganham terreno ante o dólar, com destaque para o avanço do baht tailandês, a rupia indonésia e o ringgit malaio, diante dos sinais de demora no aperto pelo Fed. Nas bolsas, contudo, prevaleceu o sinal negativo, impactadas pela volta dos negócios em Hong Kong.
Em um termômetro do que pode ser a reabertura da Bolsa de Xangai, na próxima semana, a Bolsa de Hong Kong voltou a funcionar hoje, tirando o atraso da paralisação dos negócios nos últimos três dias, quando o petróleo e o temor com a economia global ditaram o rumo dos mercados financeiros. As perdas de 4,00% do índice Hang Seng hoje, no pior início de ano novo lunar desde 1994, assustaram, mas a sessão asiática foi esvaziada por feriados na China e no Japão.
Com isso, o foco se desloca para o Ocidente, que conta com um novo depoimento de Yellen. Desta vez, ela irá falar ao Senado, novamente às 13 horas, e deve repetir o discurso da véspera, com as novidades podendo ficar com a sessão de perguntas e respostas.
Entre os indicadores econômicos, nos EUA, saem apenas os pedidos semanais de auxílio-desemprego (11h30). No Brasil, serão conhecidos os primeiros números de fevereiro da inflação ao consumidor, medida pelo IPC-S da FGV (8h), e da balança comercial (15h).
Entre os eventos de relevo, a imprensa ainda se mobiliza na expectativa de uma nova fase da Operação Lava Jato, em Atibaia (SP), após a divulgação, por equívoco, do despacho do juiz Sérgio Moro para apurar se as empresas investigadas no esquema de corrupção pagaram por obras de melhorias em um sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outro que também pode se tornar réu na Lava Jato é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de receber propina de empreiteiras e de atrapalhar as investigações. A decisão cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF). Aliás, o Congresso Nacional só volta do carnaval na semana que vem, quando também devem ser retomadas as discussões sobre os mandatos de Cunha e da presidente Dilma Rousseff.
Já no Executivo, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tem reunião da Junta Orçamentária, às 11 horas, quando deve discutir os cortes no Orçamento de 2016. À tarde, ele recebe o senador Romero Jucá. No Palácio do Planalto, Dilma recebe os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia) e Jaques Wagner (Casa Civil), pela manhã, e o governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, à tarde.