Quando não é a China, é o petróleo
O mercado financeiro se prepara para um novo aumento dos estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados, após o relatório do Instituto dos Estados Unidos (API), ontem, mostrar um salto de 3,8 milhões de barris no país ao final de janeiro, aprofundando a perspectiva baixista da commodity. O barril do tipo WTI é negociado abaixo de US$ 30 desde a madrugada, o que inibe o desempenho das demais commodities e também dos ativos emergentes. Os índices futuros de Nova York estão de lado, com um leve viés negativo, antes dos dados oficiais do Departamento de Energia dos EUA (DoE), às 13h30.
O choque de pessimismo já contaminou as bolsas globais ontem, com a aversão ao risco dando espaço para a cautela hoje, em meio às especulações de mais medidas de estímulo por parte dos bancos centrais e possível cortes na produção de petróleo. Tais apostas, porém, apenas mostram quão frágil e volátil estão os mercados financeiros atualmente.
O fato é que os governos e os principais BCs do mundo estão tendo dificuldades em conseguir estabelecer um cenário mais previsível sobre o que será da economia global após a crise financeira de 2008. Os renovados estímulos monetários via compra de ativos e políticas não convencionais não têm sido capazes de financiar a atividade real e a busca de ganhos de produtividade, sustentando ciclos artificiais de crédito, que não promovem um crescimento sustentável.
A ansiedade dos investidores com o derretimento nos preços do petróleo e a preocupação com a economia global atinge em cheio os mercados emergentes. A rupia indonésia e o won sul-coreano lideram as perdas entre as moedas, sendo que entre as bolsas, o índice MSCI da região cai pelo segundo dia. Na China, o índice Xangai Composto estende as perdas, em meio aos sinais de desconfiança dos investidores.
A Bolsa de Xangai caiu apenas 0,38%, penalizada pela queda do índice dos gerentes de compras (PMI) do setor de serviços chinês, que inclui também as atividades da construção civil, a 53,5 em janeiro, de 54,4 em dezembro. Já o PMI calculado pela Markit, em parceria com o Caixin, subiu ao maior nível em seis meses, a 52,4, de 50,2, no mesmo período.
O mercado acionário em Xangai estará fechado ao longo de toda a semana que vem, por causa do Ano Novo Lunar. Em Hong Kong, as perdas foram bem mais acentuadas, de -2,4%, enquanto Tóquio tombou 3,15%. As bolsas da Índia e das Filipinas caíram mais de 1%. No Ocidente, as ações de empresas produtoras de energia devem pesar nos negócios, o que já deprime a performance das praças europeias.
No exterior, o calendário ganha força e traz dados de atividade no setor de serviços na Europa e nos Estados Unidos ao longo da manhã. No início da tarde, é a vez dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país ao final de janeiro, que devem corroborar os números do API, ontem.
Mas o destaque fica com o número de vagas de trabalho criadas pelo setor privado nos Estados Unidos em janeiro, que deve girar em torno de 195 mil. O dado da ADP, tido como um termômetro do relatório oficial de emprego no país (payroll), na sexta-feira, será conhecido às 11h15 e pode calibrar as apostas em relação aos próximos passos do Federal Reserve, em meio às ações de outras autoridades monetárias.
Já no Brasil, com o retorno do recesso do Congresso e do Judiciário, o mês de fevereiro vai se desenhando tão complicado quanto foi janeiro, em meio aos esforços do governo federal para fazer avançar, na Câmara, as matérias prioritárias para equilibrar as contas públicas. No topo da lista, estão a proposta que prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU) até 2019 e a que recria a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
Na mensagem do Executivo aos senadores e deputados, a presidente Dilma Rousseff disse esperar contar, mais uma vez, com a parceria do Congresso Nacional, acrescentando que o Brasil precisa da contribuição do Legislativo. Ela tratou de questões como controle dos gastos, reforma da Previdência, CPMF e ampliação do comércio exterior. Segundo Dilma, o governo vai trabalhar “incansavelmente” para 2016 ser ano da retomada do crescimento.
Hoje, a partir das 10 horas, acontece a primeira reunião do Colégio de Líderes, na qual os aliados conseguem medir a dificuldade que terão pela frente para emplacar tais temas. Independente dessa articulação, três medidas provisórias (MP) e dois projetos de lei (PL) trancam a pauta da Câmara e impedem que outras matérias entrem na pauta do plenário.
O objetivo é de que essas votações – que se referem ao imposto sobre o ganho de capital, sobre a reforma administrativa, sobre o salário de servidores públicos e sobre o crime de terrorismo – aconteçam ainda antes do carnaval. Mas tudo dependerá de um acordo das lideranças partidárias.
Ainda na Câmara, o processo de cassação contra o mandato do presidente da Casa votou à estaca zero, após um aliado de Eduardo Cunha anular a votação do Conselho de Ética. Entre os indicadores econômicos, a Fipe informou, logo cedo, que seu IPC acelerou a 1,37%, ante avanço de 0,82% em dezembro. Depois, às 12h30, o Banco Central informa os números do fluxo cambial no mês passado, além do índice de commodities (IC-Br).
Entre os eventos de relevo, destaque para a reunião, às 12h, do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, com representantes da Moody's. A agência de classificação de risco deve ser a terceira a retirar o selo de grau de investimento do Brasil, em meio à desconfiança na capacidade do governo de equilibrar a situação fiscal. Antes, 10h, Barbosa tem reunião da Junta Orçamentária.