Derretimento nos mercados continua
O pior início de ano para os mercados financeiros entra na terceira semana, com a busca por proteção dos investidores se estendendo à medida que o petróleo afunda para o menor nível em 12 anos. O fim das sanções ao Irã mergulhou os preços da commodity, que pode agora buscar o patamar de US$ 25, em meio ao objetivo do país persa de elevar os embarques diários de petróleo em 500 mil barris, elevando o excesso de oferta global.
Como consequência, os ativos de maior risco, como as ações e moedas de países emergentes, voltam a sofrer uma forte onda vendedora (selloff). O índice MSCI da região cai pelo terceiro dia seguido e é negociado no menor nível desde maio de 2009, acumulando perdas de mais de 10% desde o começo de 2016. Entre as commodities, o petróleo ao redor de 2%, tanto em Londres quanto em Nova York, cotados a US$ 28, mas o cobre avança.
A preocupação com o crescimento econômico global também afeta as moedas correlacionadas às matérias-primas, com destaque para a queda do ringgit malaio. Contudo, a Bolsa de Xangai se recuperou, na primeira sessão após entrar em mercado de baixa (bear market), e subiu 0,45%, após a recuperação dos preços de imóveis se espalhar para 39 cidades do país em dezembro, de 33 em novembro, frente a um total de 70.
O yuan offshore, negociado em Hong Kong, também avançou, diante dos esforços de Pequim para conter as especulações na moeda chinesa. Apesar da tensão com o fim das barreiras diplomáticas ao Irão, as atenções dos mercados financeiros neste início de semana estão voltadas para a China. Afinal, o país asiático anuncia, na virada de hoje para amanhã, os números do Produto Interno Bruto (PIB) da em 2015.
Durante o fim de semana, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, afirmou que a economia chinesa atingiu o alvo e cresceu "em torno de" 7% no ano passado - no menor ritmo de expansão em 25 anos, mas alcançando a cifra de US$ 10 trilhões. A previsão é de que o número fique em 6,9%, ante alta de 7,3% do PIB em 2014. Li destacou que o setor de serviços respondeu por quase 60% do crescimento, com a indústria pesada deixando de liderar a dinâmica da atividade, ao mesmo tempo em que o emprego se expandiu mais que o esperado, com 900 milhões de pessoas compondo a força de trabalho total no país.
À espera dos números oficiais, que também serão acompanhados dos dados da indústria e do varejo chinês em dezembro, a cautela prevalece nos negócios hoje, dia de feriado nos Estados Unidos, em homenagem a Martin Luther King Jr.. As bolsas de Nova York não abrem hoje, mas ainda assim os índices futuros exibem um sinal positivo nesta manhã, o que embala a abertura do pregão na Europa.
Na Ásia, à exceção de Xangai, prevaleceu a queda das bolsas. Tóquio perdeu 1,11% e Hong Kong cedeu 0,85%. Na Oceania, a Bolsa de Sydney recuou 0,7%, em meio à queda acelerada nas ações da mineradora BHP Billiton. Porém, o dólar australiano ganha força, reavendo parte das perdas na semana passada.
Independente do resultado oficial do PIB chinês, o mercado precisa aceitar a adaptação econômica pela qual passa a China, que segue firme rumo a um “novo normal” da atividade, com taxas de crescimento mais estáveis e ainda elevadas – porém longe dos 10% ou mais. Ao que tudo indica, os grandes investidores encontraram no país asiático o motivo perfeito para engatar uma forte realização de lucros, colocando no bolso os ganhos de cinco anos e/ou fugindo para os ativos mais seguros do mundo, as Treasuries, onde encontram proteção.
Afinal, os dados dos Estados Unidos na semana passada reforçaram as chances de que o Federal Reserve voltará a subir os juros em março. Essa premissa pode ficar ainda mais certa após a divulgação dos preços ao consumidor (CPI) em dezembro, na quarta-feira. Nas recentes publicações, o Fed deixou claro que está concentrado na leitura do núcleo da inflação, que exclui comportamentos voláteis de alimentos e energia, para continuar a normalizar a taxa, rumo a até 1%.
Dados sobre o setor imobiliário norte-americano também estão previstos ao longo da semana, além do índice de indicadores antecedentes. Já na Europa, destaque para a decisão de política monetária do Banco Central da zona do euro (BCE), na quinta-feira. Além disso, saem dados de inflação, atividade e sentimento econômico na região.
Internamente, o foco dos investidores está na primeira reunião de 2016 do Comitê de Política Monetária (Copom). As apostas são de que o Banco Central volta a subir o juro básico, interrompendo o “período prolongado” de manutenção da Selic – iniciado em setembro de 2015 – e eleve a taxa em 0,50 ponto porcentual, a 14,75%. Se confirmado, o juro volta aos níveis de agosto de 2006, quando estava nesse mesmo patamar.
Dois dias após a decisão do Copom, que será conhecida na noite de quarta-feira, sai a prévia de janeiro da inflação oficial no país, medida pelo IPCA-15. O índice deve continuar “salgado”, em meio aos reajustes nas tarifas de transporte público nos primeiros dias de 2016, o que devem manter a taxa acumulada em 12 meses acima dos dois dígitos.
Entre os eventos de relevo, começa hoje, em Davos (Suíça), o Fórum Econômico Mundial. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, embarca hoje para o país e já amanhã tem reunião com um representante da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Zurique. Antes, às 10 horas, ele tem um encontro com a presidente Dilma Rousseff.
Barbosa tem uma agenda extensa de compromissos com executivos e lideranças globais no exterior até sexta-feira, quando concede uma entrevista coletiva à imprensa, um dia após apresentar um painel em Davos. Antes, destaque para o encontro com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na quarta-feira, e com o secretário do Tesouro dos EUA, Jacob Lew, no dia seguinte.