Mercado tem dor de cabeça com China e petróleo
A desconfiança em relação à economia chinesa, que deve desacelerar além do esperado, podendo deprimir ainda mais as cotações do petróleo, continua norteando os mercados financeiros. Após o alívio dos negócios ontem, quando Wall Street exibiu ganhos firmes, o sinal negativo volta a prevalecer nas bolsas e commodities na manhã desta sexta-feira, dia de agenda econômica forte, em termos de indicadores.
A Bolsa de Xangai caiu 3,55%, ao passo que o CSI 300 recuou 3,19%, com o mercado acionário chinês já entrando em área baixista (bear market), após o índice Xangai Composto cair mais de 20% desde a máxima atingida em dezembro, diante de relatos de que alguns bancos não irão mais aceitar ações de pequenas empresas como garantia para empréstimos. A queda de hoje foi atribuída à persistente preocupação dos investidores com a saúde da segunda maior economia do mundo e com a volatilidade no yuan chinês.
A moeda local negociada em Hong Kong (offshore) vem subindo desde a última sexta-feira e ganhou 1% hoje rumo ao maior avanço semanal desde outubro, à medida que o Banco Central chinês (PBoC) tem mantido a taxa diária de referência do yuan negociado na China Continental (onshore), o que eliminou a diferença entre o valores da mesma moeda negociada em ambas as praças. Ainda assim, a pior semana do índice Xangai Composto desde outubro mantém o sinal de alerta para uma depreciação adicional do renminbi.
Nos demais mercados asiáticos, Hong Kong perdeu 1,27% e Tóquio recuou 0,54%, contaminando a abertura do pregão na Europa e eliminando qualquer tentativa de alta, na esteira do avanço de mais de 1% das bolsas de Nova York ontem. Os contratos futuros dos índices acionários norte-americanos tem queda acelerada nesta manhã, de quase 1%.
Mas o comportamento dos ativos chineses atinge em cheio as bolsas e moedas de países emergentes, afetando também as commodities. O petróleo volta a testar a marca de US$ 30 o barril, tanto o WTI quanto o Brent, com queda de mais de 2% - mesma variação negativa exibida pelo cobre. Em reação, o índice MSCI de países emergentes caminha para terceira semana seguida de queda, no pior início de ano desde 1998. As moedas também caem pela terceira semana, com o rublo russo, o rand sul-africano e o won sul-coreano liderando as perdas.
Por sua vez, o peso argentino deve alcançar o maior ganho semanal desde 2002, de quase 5%, reconquistando parte do terreno perdido após cair quase 30% ante o dólar em dezembro. O peso colombiano e o real brasileiro também se fortaleceram, com a moeda norte-americana fechando abaixo de R$ 4,00 ontem.
A sombra sobre a economia global que vem sendo lançada pela China tem como componente causa-efeito o processo de normalização da taxa de juros nos Estados Unidos. Afinal, o que se vê agora é um movimento contrário ao de 2008, quando o dólar derreteu pelo mundo, alavancando as commodities e, de quebra, içando a expansão dos países em desenvolvimento.
O ex-secretário do Tesouro norte-americano Larry Summers alertou para essa questão, dizendo que “a economia global não consegue suportar quatro aumentos nos juros dos EUA em 2016”. Para ele, o Federal Reserve precisa prestar atenção à mensagem vinda dos mercados de commodities e de ações emergentes, que podem cair ainda mais em meio à fraqueza dos preços e do crescimento.
Porém, o presidente da distrital de Saint Louis do Fed, James Bullard, é a favor de quatro apertos na taxa dos Fed Funds neste ano, apesar dos sinais de que a inflação nos EUA seguirá baixa e distante da meta anual de 2% por algum tempo – justamente por causa da gasolina barata nas bombas, assim como outros produtos derivados do petróleo.
O calendário de divulgações começa logo cedo. No Brasil, às 8 horas, sai o primeiro Índice Geral de Preços (IGP) de 2016, o IGP-10, que deve desacelerar ainda mais, indo a 0,55% em janeiro, ante alta de 0,81% em dezembro. No acumulado dos últimos 12 meses, porém, o índice deve seguir elevado e subir a 10,73%.
Na sequência, às 8h30, o Banco Central entra em cena para informar seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), tido como um termômetro para os números do Produto Interno Bruto (PIB). O dado, referente ao mês de novembro, deve cair 0,80% ante outubro e recuar 6,5% na comparação com igual mês de 2014.
Ainda internamente, às 9 horas, o IBGE anuncia a PNAD contínua, que substitui a pesquisa mensal sobre o mercado de trabalho (PME) a partir deste ano, com dados sobre o emprego e a renda da população. Contudo, o documento é um pouco defasado e refere-se ao trimestre encerrado em outubro de 2015. No terceiro trimestre do ano passado, a taxa de desemprego ficou em 8,9%.
Entre os eventos de relevo, a presidente Dilma Rousseff volta a tomar café com jornalistas pela manhã (9h30). À tarde, ela reúne-se com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa (14h30), e depois recebe ainda o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto (16h).
No exterior, as atenções se voltam para os Estados Unidos, onde a agenda econômica também está carregada. Os destaques ficam com as vendas no varejo (11h30) e a produção industrial (12h15) em dezembro, mas também estão no radar os preços ao produtor (PPI) no mês passado (11h30) e leitura preliminar do mês do índice de confiança do consumidor norte-americano (13h), medido pela Universidade de Michigan.
Completam o dia de divulgações nos EUA, o índice de atividade Empire State de janeiro (11h30) e os estoques das empresas em novembro (13h). Na safra de balanços, os bancos Citigroup e Wells Fargo divulgam os resultados financeiros do quarto trimestre de 2015, antes da abertura do mercado.