Mercados buscam o fundo do poço
O que irá acalmar os mercados? Como na fábula de Lewis Carroll, mas tendo a China e o petróleo como protagonistas dos negócios globais, os investidores indagam que ou esse poço tem fundo ou essa queda não tem fim. Depois do barril do Brent cair ontem abaixo de US$ 30 pela primeira vez desde abril de 2004 - atingindo em cheio a Bovespa, que já acumula perdas de 10% apenas neste início de ano - a espiral vendedora (selloff) teve continuidade hoje, com a Bolsa de Xangai caindo ao menor nível desde agosto, quando ocorreu a maxidesvalorização do yuan chinês. Ao final da sessão, porém, houve repique.
O índice Xangai Composto recuperou-se da queda de quase 3% exibida logo na abertura da sessão e subiu 1,98%, assim como o CSI, que subiu 2,08%, em meio aos esforços de Pequim para estabilizar os mercados acionários. Contudo, os investidores parecem não ter confiança na China e estão preocupados com a performance ruim da segunda maior economia do mundo.
A divulgação dos números do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2015 apenas 19 dias após o fim do período é uma das razões por trás de tanto pessimismo. O dado sai na próxima terça-feira e pode adentrar de vez a Bolsa chinesa em mercado de baixa (bear market).
Mas além da China, a queda livre nos preços do petróleo também preocupa. Com os estoques da commodity nos Estados Unidos nos maiores níveis em 80 anos somada à oferta saturada no mundo e ao baixo crescimento econômico global, o preço real do barril pode ser ainda mais baixo - e o colapso nos mercados, ainda maior.
Nesta manhã, porém, o WTI e o Brent exibem ganhos, ambos cotados na faixa de US$ 30, o que abre espaço para uma recuperação dos índices futuros das bolsas de Nova York. Ontem, Wall Street inverteu a direção e passou a cair assim que saíram os dados sobre os estoques semanais norte-americanos, resultando em perdas de mais de 2% no Dow Jones e no S&P 500.
Mas o sinal positivo vindo dos índices futuros desde cedo traz certo alívio aos negócios, com os investidores deslocando o foco para a safra de balanços norte-americanos. Antes da abertura do pregão, sai o resultado financeiro do JP Morgan referente ao quarto trimestre de 2015. Após o fechamento da sessão, a Intel divulga seu demonstrativo no período.
Ainda assim, as principais bolsas europeias são afetadas pelo recuo nas demais praças asiáticas, onde Tóquio (-2,68%) e Hong Kong (-0,5%) cederam. O Velho Continente também se ressente das perdas aceleradas nos mercados emergentes, onde as ações são negociadas nos níveis mais baixos desde 2009 e as moedas se enfraquecem ante o dólar, que tem sido beneficiado pela aversão ao risco.
O destaque fica para a rupia indonésia e a bolsa local, em Jacarta, que fecharam com queda forte após explosões e troca de tiros no centro da capital - pela manhã, o Estado Islâmico assumiu a autoria dos ataques, que tiveram os mesmos moldes do ocorrido recentemente em Paris. Aliás, o Banco Central da Indonésia cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, para 7,25%, pela primeira vez em 11 meses.
Outras decisões de política monetária ao redor do mundo marcam esta quinta-feira, com destaque para a do Banco Central inglês (BoE), às 10 horas. Já o BC Europeu (BCE) publica a ata da última reunião de 2015, quando a autoridade monetária frustrou as expectativas e não adotou estímulos adicionais ousados para a zona do euro. O documento será divulgado às 10h30 e pode trazer as justificativas para tal hesitação.
Entre os indicadores econômicos, o calendário do dia no exterior está mais fraco e traz os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos, além o índice de preços de produtos importados em dezembro. Ambos serão conhecidos às 11h30.
No âmbito doméstico, a agenda também não traz nenhum indicador de peso e reserva apenas a pesquisa mensal de serviços em novembro, às 9 horas. Entre os eventos de relevo, destaque para a reunião do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, no fim do dia.
Com isso, os mercados domésticos tendem a acompanhar a tendência ditada pelo ambiente internacional, ainda em busca do fundo do poço. Enquanto o dólar deve se manter flutuando para além de R$ 4,00, pois a alta parece não ter limite, os juros futuros tendem a refletir as apostas em torno do resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.
Já a Bovespa segue refém da cotação das commodities, em especial o petróleo, uma vez que as empresas nacionais não têm sido beneficiadas pela derrocada da commodity no exterior por causa do controle dos preços pela Petrobras. A renda variável brasileira, contudo, não deve perder de vista o desempenho em Wall Street. A conferir.