Sai Planalto, entra Fazenda
O noticiário político faz uma pausa nesta sexta-feira, mas, ainda assim, o dia deve ser agitado nos mercados domésticos, com renovados rumores sobre a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ele teria sinalizado que pode deixar o cargo, caso a meta fiscal de 2016 seja zerada, abrindo espaço para uma ação pelas agências de classificação de risco. O rebaixamento do rating do Brasil em breve atingiu os ativos ontem e o ambiente externo tampouco está favorável para uma recuperação no dia.
Para Levy, o governo está "engajado" em atacar os problemas a fim de evitar a perda do selo de bom pagador. A Fazenda atribui a avaliação da Moody's como um reflexo da realidade brasileira, em meio à crise política e à dificuldade de progredir com a agenda fiscal no Congresso. Botafoguense, o ministro disse ontem que a questão do rebaixamento é igual a um campeonato de futebol: "é preciso trabalhar e tentar voltar para a divisão a que você acha que pertence".
Talvez, por isso, ele teria dado novos indícios de que "estaria fora" do cargo, caso não seja aprovada uma meta de superávit primário de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. Relatos dão conta de que, segundo Levy, sua permanência no governo "perderia o sentido" se a meta fosse zerada, como defendem uma ala do governo e parlamentares da base aliada.
A previsão de 0,7% do PIB consta no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016, que ser votado na próxima terça-feira, dia em que haverá sessão plenária do Congresso. Até lá, os negócios locais viram um terreno fértil para as especulações, com os investidores divididos entre o rebaixamento do Brasil para o grau especulativo, na ponta pessimista, e o impeachment da presidente Dilma Rousseff, no lado otimista.
Afinal, também ficaram para a semana que vem a apresentação do parecer do novo relator do processo contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no Conselho de Ética, na terça-feira; bem como o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), um dia depois, para a definição do rito para o processo de impeachment contra o mandato de Dilma do início, na Câmara, ao fim, no Senado.
Para hoje, no Brasil, está prevista apenas a divulgação da estimativa da safra agrícola 2015/2016 pelo IBGE (9h) e pela Conab (10h). Entre os eventos de relevo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estará em São Paulo, onde participa de eventos ao longo do dia. Às 18 horas, ele concede entrevista coletiva, ao lado do secretário da Receita, Jorge Rachid.
Já no exterior, a agenda econômica norte-americana ganha força neste último dia da semana. As atenções se dividem entre as vendas no varejo dos Estados Unidos em novembro, às 11h30, e a leitura preliminar de dezembro da confiança do consumidor, às 13h.
Para o dado do comércio varejista, é esperado um novo avanço, de +0,3%, ao passo que o sentimento medido pela Universidade de Michigan deve recuar a 92,0 pontos. Ainda no calendário do dia nos EUA, saem o índice de preços ao produtor (PPI) no mês passado, às 11h30, e os estoques das empresas em outubro (13h).
À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York mantêm a recuperação ensaiada na hora final do pregão de ontem, quando o Dow Jones e o S&P 500 conseguiram encerrar com ligeiros ganhos, interrompendo três dias consecutivos de queda.
O movimento em Wall Street vem sendo conduzido pelo comportamento do petróleo, que ontem foi negociado abaixo de US$ 37 pela primeira vez desde 2009. Nesta manhã, a commodity segue com uma cotação inferior a esse valor, a US$ 36,5, nos menores níveis em sete anos, refletindo a produção mensal acima do esperado pelo cartel dos países exportadores (Opep).
Na Europa, o sinal negativo prevalece, refletindo o comportamento das commodities e também sob efeito da queda das bolsas na Ásia. A Bolsa de Xangai caiu 0,59%, na mínima em cinco semanas, após relatos de que o empresário bilionário Guo Guangchang está desaparecido e incomunicável, o que tem chamado a atenção para a prática do Partido Comunista e sua campanha anti-corrupção.
A Bolsa de Hong Kong caiu 1,11% e o yuan chinês perdeu 0,22% para o dólar, acumulando queda de 0,8% na semana. O Banco Central da China (PBoC) vem diminuindo a taxa de fixação da moeda local em sete dos últimos nove pregões, desde que o Fundo Monetário Internacional (FMI) incluiu o renminbi em um cesta referencial de moedas globais. Ainda na China, amanhã, saem dados sobre as vendas no varejo e a produção industrial.
Por sua vez, a Bolsa de Tóquio subiu 0,96%, impulsionada pelo iene mais fraco. A iminência do aperto dos juros norte-americanos neste mês, pela primeira vez desde 2006, combinada com o crescimento global vacilante fortalece o dólar ao redor do mundo, o que atinge os mercados emergentes. As bolsas desses países caminham para a maior sequência de perdas em seis meses, enquanto as moedas têm as maiores perdas desde outubro.