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Mercados recebem o líder do impeachment


Depois de passar todo o dia de ontem esperando pelo vice-presidente da República, a presidente Dilma Rousseff recebeu, à noite, uma carta pessoal de Michel Temer, na qual afirma que ela não confia nele nem no PMDB "hoje nem amanhã". Era a posição - do sucessor imediato e do principal partido da base - sobre o atual momento político do Brasil que os mercados domésticos aguardavam. E a reação dos negócios locais ocorre em dia de dados fracos da balança comercial chinesa, que derrubam bolsas e commodities no exterior.

O texto de três páginas do vice-presidente relata uma série de episódios que demonstrariam, nas palavras de Temer, a "absoluta desconfiança" que sempre existiu em relação a ele e ao PMDB por parte de Dilma. Para o Palácio do Planalto, a carta foi vista como um passo em direção ao rompimento com o governo, agravando a crise política em um momento em que a presidente sofre um processo de impeachment.

Aliás, ficou para esta terça-feira a definição dos nomes dos deputados que irão compor a comissão que vai analisar o pedido de impeachment contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, o que deve manter em suspense os mercados domésticos nesta terça-feira. Por decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a sessão de ontem foi adiada para evitar recursos à Justiça por suposto cerceamento daqueles que querem concorrer a vaga.

Com essa manobra, a votação no Conselho de Ética do parecer do processo de cassação de Cunha não deve ocorrer hoje, pois a sessão do plenário para a eleição da comissão do impeachment ocorrerá a partir das 14 horas, com a "ordem do dia" impedindo a votação do parecer contra o deputado. Segundo ele, porém, as atividades da Casa só terão início às 17h30.

Com a expectativa de ter os votos para barrar o impeachment, a base aliada quer acelerar o processo e encerrá-lo em janeiro. Já a oposição pretende adiar o desfecho do caso para depois do carnaval. O fiel da balança, nesse caso, pode ser o presidente do Senado, Renan Calheiros, que sinalizou que deixará de colocar em votação a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no fim de ano, impedindo o recesso parlamentar.

Diante desse noticiário político cada vez mais tenso, os investidores também precisam digerir o que acontece no exterior. A Bolsa de Xangai caiu 1,89% hoje, no maior recuo em uma semana, ao passo que o yuan chinês encerrou no nível mais baixo em quatro anos, após novos números reforçarem a percepção de que a segunda maior economia do mundo está aprofundado a desaceleração da atividade.

As exportações da China caíram pelo quinto mês consecutivo, em -6,8% em novembro ante um ano antes, em valores dolarizados, mais que a previsão de recuo de 5% e na esteira de uma queda de 6,9% em outubro, na mesma base de comparação. Já as importações cederam pelo 13º mês consecutivo, com -8,7% no mês passado, em base anual, depois de terem tombado 18,8% em outubro. Assim, o saldo da balança comercial chinesa foi positivo em US$ 54,1 bilhões.

A combinação de um comércio internacional lento com uma fraca demanda doméstica mostra que os seis cortes nas taxas de juros da China ainda não foram suficientes para conter uma perda de tração mais firme do gigante emergente. Esse fator atinge em cheio as commodities metálicas - principalmente o minério de ferro, que veio abaixo de US$ 40 por tonelada métrica, mas o petróleo ensaia uma recuperação nesta manhã, na casa dos US$ 37, após recuar à mínima em seis anos ontem.

O sinal negativo prevaleceu nos demais mercados asiáticos contaminando também a performance das moedas de países emergentes. Tóquio caiu cerca de 1% e Hong Kong perdeu ao redor de 1,5%, enquanto no Pacífico, a Bolsa de Sydney perdeu 0,9%. Os dólares australiano e canadense perdem terreno para o xará dos Estados Unidos, assim como o ringgit malaio e o won sul-coreano.

No Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, apontando para uma extensão das perdas da véspera, na esteira do colapso do petróleo e das ações do setor de energia. As principais bolsas europeias também exibem perdas, à espera da divulgação de números da indústria britânica em outubro e também uma leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro no terceiro trimestre deste ano, nesta manhã.

Na agenda doméstica de indicadores econômicos, a FGV informa, às 8 horas, a leitura do IPC-S na primeira semana de dezembro e também o resultado do IGP-DI em novembro. A previsão é de desaceleração a 1,35% em base mensal, puxada pelos preços industriais, mas a taxa acumulada em 12 meses deve chegar a 10,80%, com persistente pressão nos preços agrícolas e do varejo.

Depois, às 9 horas, o IBGE informa os dados regionais da produção industrial em outubro. No exterior, o calendário do dia está esvaziado nos Estados Unidos, mas merece atenção o relatório JOLTS sobre o número de vagas disponíveis em outubro, às 13 horas. À noite, a China volta à cena para informar os índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) no mês passado.

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