Investidor evita comprar risco na Black Friday
A última sexta-feira do mês abre a temporada de compras de fim de ano nos Estados Unidos, com a chamada Black Friday. A data, que também passou a ser comemorada no Brasil há alguns anos, pode impulsionar as vendas no varejo, principalmente pela internet. Já nos mercados financeiros, o apetite dos investidores deve seguir baixo, em meio ao agravamento da crise política desde as prisões da Polícia Federal no âmbito da Lava Jato.
A decisão do Senado de referendar a prisão do ex-líder do governo na Casa, Delcídio do Amaral (PT-MS), trouxe dúvidas quanto à realização da sessão conjunta no Congresso para a análise do projeto de lei que trata da revisão da meta fiscal deste ano. Ainda não há uma nova data para a apreciação do tema e, por enquanto, os parlamentares só devem voltar a se reunir em 17 de dezembro, seis dias antes do início formal do recesso.
Porém, a ideia do Palácio do Planalto é de não encerrar o ano sem antes aprovar a meta fiscal de 2015, as diretrizes orçamentárias e o Orçamento da União de 2016. Para o governo, esses três temas somados à prorrogação de desvinculação de receitas da União (DRU) são prioridades.
Contudo, o governo federal teme virar alvo de Delcídio, que poderia usar mentiras para atacar diretamente a presidente Dilma Rousseff. Por isso, a decisão de não atacar nem isolar o senador. No primeiro depoimento à PF, Delcídio disse que quis dar uma "palavra de conforto" ao filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo, com quem manteve reuniões por uma "questão humanitária".
Já o banqueiro André Esteves foi levado para o presídio de Bangu 8, na zona oeste do Rio, após o ministro do STF Teori Zavascki negar o pedido de revogação de prisão feito pela defesa. O ministro também rejeitou o pedido de revogação imediata da prisão, que é temporária, com duração de cinco dias. Porém, a Procuradoria-Geral da República pode pedir uma extensão do prazo.
Enquanto isso, na Câmara, o presidente Eduardo Cunha promete decidir sobre os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff até a próxima segunda-feira. Segundo ele, estão prontos todos os pareceres, que podem arquivar ou autorizar o processo contra o mandato de Dilma. A proposta de aliados do PMDB aos partidos de oposição é de preservar o mandato de Cunha, em troca do impeachment da presidente.
É sob esse clima tenso, que deixou Brasília e o mercado financeiro em estado de choque, que os negócios locais encerram a semana. O ritmo mais lento do pregão em Wall Street hoje, que funciona a meio mastro e fecha mais cedo, às 16h, ajuda a enxugar a liquidez do dia. Mas a expectativa é de que nas lojas a movimentação das compras seja intensa.
Apesar das dificuldades para o comércio brasileiro neste ano, a estimativa é de que a data registre um crescimento de dois dígitos nas vendas geradas pelo evento em 2015, alcançando um valor na faixa de R$ 1 bilhão. Já nos EUA, a Black Friday deve faturar até US$ 3 bilhões, com descontos generosos impulsionando o varejo norte-americano até a CyberMonday, na próxima segunda-feira.
Por ora, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d'água, mas um ligeiro viés negativo prevalece, também na Europa, em meio às perdas vindas da Ásia. A Bolsa de Xangai desabou 5,49% e o yuan chinês caiu ao nível mais baixo em três meses, após o lucro industrial no país recuar 4,6% no mês passado, ante uma queda bem menor, de 0,1% em setembro.
O dado mostra que a segunda maior economia do mundo continua dando sinais de desaceleração, o que atinge em cheio os ativos de países emergentes. O índice MSCI da região cedia ao redor de 1%, mais cedo, ao passo que entre as moedas, a lira turca registrava a maior perda semanal desde março, em meio à retaliação russa.
O dólar australiano também caminha para interromper uma sequência de ganhos semanais, enquanto o euro perde terreno para o iene e para o dólar, em antecipação aos estímulos monetárias adicionais que devem ser adotados pelo Banco Central Europeu (BCE), na semana que vem. As commodities também recuam.
Na agenda de indicadores econômicos, o dia começa com o resultado de novembro do IGP-M, que deve apresentar uma tênue desaceleração ante outubro, mas tende a seguir salgado, com uma taxa na faixa de 1,5%. O dado será conhecido às 8 horas. Depois, às 10h30, o Banco Central divulga a nota de operações de crédito no mês passado.
No exterior, não está prevista a divulgação de nenhum indicador nos EUA. Com isso, as atenções se voltam para os dados europeus, com destaque para o índice de confiança do consumidor na zona do euro neste mês (8h).