Riscos e incertezas após prisões da PF
O Banco Central não obteve consenso ontem para manter a Selic em 14,25%. O placar de 6 a 2 contou com o voto do mais recente integrante, Tony Volpon, por uma alta firme, de 0,50pp. No Senado, a maioria esmagadora decidiu manter a prisão do petista Delcídio do Amaral, por 59 votos a 13 e uma abstenção. São esses resultados que devem manter a tensão nos mercados domésticos, em Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.
A ausência do pregão em Wall Street hoje abre espaço para os ativos locais continuarem repercutindo o noticiário político, que reacendeu a aversão ao risco após as prisões feitas ontem pela Polícia Federal. A percepção dos investidores foi a pior possível, diante dos temores sobre os possíveis desdobramentos, uma vez que o líder do governo no Senado era o principal articulador para assuntos do ajuste fiscal, enquanto o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, e outros bancos podem sofrer com uma corrida de saques.
A Bovespa deu claros sinais desse receio, fechando a sessão de quarta-feira em baixa de quase 3%. No ranking de corretoras, BTG Pactual liderou a ponta compradora, com um volume líquido de R$ 208 milhões. Na outra ponta, a XP Investimentos encabeçou as vendas, com R$ 182,3 milhões. Nesse dia tenso, o dólar encostou rapidamente em R$ 3,80, mas fechou abaixo de R$ 3,75.
Só que as atenções de hoje estarão voltadas ao mercado de juros futuros, que deve empinar um pouco mais os prêmios da curva a termo, em reação à última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom). Pela primeira vez desde a atual composição, em abril, a decisão de manter a taxa básica de juros não foi unânime.
A última vez em que houve divisão no BC foi quando teve início o mais recente ciclo de aperto do juro básico, em outubro de 2014. À época, a discussão se dava sobre o ritmo do aperto. Ontem, o diretor de organização do sistema financeiro e controle de operações do crédito rural, Sidnei Corrêa Marques, seguiu o voto de Volpon.
O comunicado enxuto explicou que a Selic em 14,25% condiz com a avaliação da "conjuntura macroeconômica" e as "perspectivas para a inflação" - eliminando do trecho o "atual balanço de riscos" e substituindo a palavra "cenário". E é essa justificativa que deve alimentar as especulações com os DIs, em um ambiente mais incerto e repleto de riscos vindos da Operação Lava Jato.
No exterior, os mercados internacionais caminham com as próprias pernas, diante do feriado nos EUA, o que deixa as principais bolsas europeias sem um rumo definido. Na Ásia, o foco esteve voltado para a China, que fechou a sessão de hoje em queda, de -0,33%, pela primeira vez em três dias. Ainda assim, a notícia de que os órgãos reguladores chineses estariam considerando uma investigação sobre vendas a descoberto nas bolsas locais impulsionaram os metais básicos.
O cobre avança mais de 2% nesta manhã, enquanto o níquel é beneficiado pelo pedido de corte de produção por algumas fundições, ao mesmo tempo que um grupo da indústria solicitou às autoridades para comprar suprimentos. O petróleo avança mais um degrau e é negociado a US$ 43 por barril.
Nas demais bolsas asiáticas, Tóquio subiu 0,49%, com o iene mais fraco ajudando as ações de empresas exportadoras. Já Hong Kong fechou na linha d'água, com um ligeiro viés negativo. Na Austrália, os papéis da BHP Billinton voltaram a pesar, mas a Bolsa de Sydney conseguiu fechar com alta de 0,8%. Entre as moedas, o dólar testa força ante os rivais, em meio a uma baixa liquidez.
A agenda econômica do dia está mais fraca. Pela manhã, a Fipe informou que seu IPC acelerou a 099% na terceira prévia de novembro, após avançar 0,94% na leitura anterior do mês. Logo mais, às 8 horas, sai a sondagem do comércio e, às 10h30, é a vez da nota do setor externo em outubro.
Mas o destaque do calendário doméstico fica com o resultado primário do governo central no mês passado, divulgado pelo Tesouro Nacional às 15h30. No exterior, será conhecido apenas o índice GfK, às 10 horas, sobre a confiança do consumidor alemão para dezembro.