Mercado aguarda dados dos EUA e pauta no Congresso
A história de incidentes terroristas nos últimos 15 anos mostra que as reações do mercado financeiro são, muitas vezes, de curta duração. Ontem mesmo, os investidores reavaliaram o impacto dos ataques em Paris e seguiram em frente, mostrando confiança no primeiro dia de negócios após os atentados na capital francesa. Hoje, os ativos de risco se recuperam, com as atenções voltadas para os dados e eventos econômicos do dia.
A agenda está carregada nesta terça-feira, principalmente lá fora. O dia começa com dados de inflação no Reino Unido em outubro e sobre o sentimento econômico na Alemanha neste mês, mas os destaques ficam com os números sobre os preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, às 11h30, e sobre a produção industrial norte-americana, às 12h15 – ambos referentes ao mês passado.
Os dados vindos dos EUA podem consolidar as apostas em relação à alta dos juros norte-americanos no mês que vem, demovendo a taxa dos Fed Funds do intervalo entre zero e 0,25% em que está desde dezembro de 2008. À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York têm um ligeiro viés negativo, enquanto o rendimento da T-note de 10 anos está em 2,27%.
Na Europa, as bolsas estão na linha d'água, enquanto na Ásia, os mercados emergentes se recuperaram, em um sinal de que a queda recente foi longe demais - e muito rápido. A Bolsa de Xangai fechou perto da estabilidade, com -0,05%, ao passo que Tóquio subiu 1,22%, beneficiado pelo queda do iene ante o dólar. Hong Kong avançou 1,40% e Seul ganhou 1,3%. Na Austrália, a Bolsa de Sydney teve alta de 0,9%.
As moedas correlacionadas às commodities também ganham terreno, mas o petróleo e o cobre seguem em baixa, com os metais básicos nos menores níveis em anos diante da menor demanda chinesa e do fortalecimento global do dólar. Portanto, a cautela inicial nos negócios pelo mundo rapidamente se dissipou, com os ativos mostrando-se mais imunes aos ataques em Paris, e o foco dos investidores continua na desaceleração econômica da China em meio aos preparativos do Federal Reserve de aumentar os juros no próximo mês.
O Banco Central antecipou-se novamente à eventual pressão de alta que os indicadores norte-americanos do dia podem provocar no dólar e anunciou dois leilões de linha para hoje. Também serão conhecidas informações dos EUA sobre a confiança das construtoras (13h) e sobre o fluxo de capital (19h). Na safra de balanços, são esperados os resultados trimestrais de Home Depot e Walmart, antes da abertura do pregão.
Já no Brasil, as atenções se voltam para o IGP-10 de novembro (8h), que deve ter leve desaceleração ante o resultado de outubro por causa da descompressão dos preços agrícolas, e também para a pesquisa do IBGE sobre o setor de serviços (9h). Números antecedentes sobre o emprego também serão divulgados pela FGV e pela Fiesp.
No Congresso, deputados e senadores devem analisar hoje, em sessão conjunta, os vetos presidenciais remanescentes. A expectativa do governo é de que todos sejam mantidos, pois, se derrubados, podem aumentar os gastos públicos, comprometendo o ajuste fiscal. Também é esperada a votação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) esta semana, abrindo caminho à apreciação das diretrizes orçamentárias de 2016 na semana que vem.
A sessão do Congresso para apreciar os vetos da presidente Dilma Rousseff servirá como um termômetro ao Palácio do Planalto para medir a fidelidade da base aliada. A avaliação da equipe que cuida da articulação política do governo é que a relação com os partidos aliados melhorou, mas ainda não está consolidada.
Hoje, ela reúne-se com os governadores de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, no fim do dia. O tema do encontro deve a tragédia socioambiental nos dois Estados após o rompimento das barragens de rejeito da Samarco. A mineradora terá de pagar multa de R$ 1 bilhão pelos danos causados.
Já o vice-presidente Michel Temer vai pregar a reunificação das forças políticas para superar a grave crise que o país atravessa e retomar a estabilidade institucional, ao abrir o congresso do PMDB, em Brasília. Porém, para o ex-banqueiro central Armínio Fraga, que declarou recentemente que faria "tudo" diferente se estivesse à frente da Fazenda, somente o impeachment de Dilma pode destravar a crise.