Ajuste fiscal anda, mas Fazenda segue pressionada
Os mercados domésticos têm operado sob o "efeito Meirelles", em meio às apostas de uma possível indicação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para substituir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas o desgaste do atual chefe da Pasta foi atenuado na noite de ontem, com a aprovação, por 351 votos a 48, do projeto de repatriação de recursos no exterior, dando sinais de que o ajuste fiscal "está andando" no Congresso.
A emenda do PSDB ao projeto de lei do governo foi votada ontem na Câmara e, em um constrangimento ao presidente da Casa, Eduardo Cunha, a regularização de ativos não declarados no exterior por detentores de cargos públicos (seus parentes e cônjuges) foi concluída e o texto segue agora para análise do Senado. O partido da oposição torce pelo rápido afastamento de Cunha para "moralizar" o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O governo federal estima arrecadar R$ 11 bilhões apenas nesta ano com a medida - uma das principais do ajuste fiscal e que possibilitará a reforma do ICMS. No entanto, o governo ainda conta com a aprovação na versão em relação ao destino dos recursos arrecadados mediante multa paga na regularização do dinheiro no exterior. No texto aprovado, os valores recolhidos são repartidos entre União, Estado e municípios.
Ainda assim, para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), "o governo já tem 100% de ganho", ao aprovar o texto-base do projeto de repatriação. Foi, portanto, uma derrota a Cunha e uma vitória da equipe econômica, que pode diminuir a "fritura" de Levy. Hoje, o ministro participa pela manhã de evento sobre o meio-ambiente, em São Paulo, e pode voltar a ser questionado sobre sua eventual saída do cargo.
Contudo, Meirelles afirmou ontem que aceitaria o cargo na Fazenda, dependendo das "condições" de trabalho. Ele fez questão de frisar que, até o momento, não recebeu nenhum convite nem mesmo sondagem da presidente Dilma, embora conte com o apoio político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para integrantes do grupo de Lula, a presidente Dilma só vai aceitar Meirelles no lugar de Levy se a situação econômica piorar ainda mais.
Hoje, ela viaja para o Estado de Minas Gerais, onde sobrevoa as áreas atingidas pelo rompimento das barragens da Samarco, em Mariana. De lá, Dilma embarca para o Espírito Santo, onde tem reuniões de trabalho. No fim do dia, ela participa da 5ª reunião do Conselho da América Latina. Já o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, participa de reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), ao lado de outros diretores do BC.
O calendário de indicadores e eventos econômicos ganha força no Brasil nesta quinta-feira e traz os dados de setembro do comércio varejista, que devem apontar nova queda nas vendas. A expectativa é de recuo de 1,00% na comparação com agosto, no oitavo resultado mensal negativo consecutivo. Já em relação a um ano antes, o varejo deve ter caído 7,30%, no pior desempenho para o mês desde o início da série histórica revisada, em 2001.
Os números efetivos serão divulgados às 9 horas pelo IBGE e é o único dado doméstico do dia. Na safra de balanços, os resultados trimestrais das estatais Banco do Brasil, antes da abertura, e Petrobras, após o fechamento do pregão local, devem agitar o pregão da Bovespa.
A expectativa é de que o banco público registre um aumento ao redor de 10% no lucro líquido, para R$ 3,2 bilhões, ao passo que a petrolífera deve sentir o peso da depreciação cambial no demonstrativo contábil. Ainda assim, o crescimento na produção de óleo e gás deve ajudar no resultado da Petrobras, que pode ser negativo na faixa de R$ 500 milhões. Também merecem atenção os balanços de Oi, BM&FBovespa, construtoras e elétricas hoje.
Já no exterior, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos (11h30), o relatório Jolts sobre o total de postos de trabalho disponíveis em setembro (13h), os estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados (14h) e também o relatório mensal do orçamento em outubro (17h). À espera desses dados, os índices futuros das bolsas de Nova York têm ligeiros ganhos.
Mas o destaque da agenda norte-americana fica com o discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, às 12h30, no qual falará sobre a implementação e a transmissão da política monetária no período pós-crise. Outros cinco dirigentes do Fed discursam nesta quinta-feira, o que levou o BC brasileiro a novamente se antecipar a prováveis pressões de alta do dólar, anunciando para hoje mais US$ 500 milhões em dois leilões de linha.
A moeda norte-americana ganha terreno nesta manhã, com o Dollar Index subindo 0,20%, o que enfraquece as principais commodities industriais. A exceção fica com o dólar australiano (aussie), que avança para o maior nível em um mês ante o xará dos EUA, após a inesperada queda da taxa de desemprego na Austrália para abaixo de 6%. O dado também impulsionou o bônus de 10 anos do país, que foi ao patamar mais alto desde julho, com a redução das apostas de mais afrouxo monetário pelo BC local (RBA).
Na Europa, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, volta a discursar hoje, perante o Comitê de Assuntos Econômicos e Financeiros do Parlamento Europeu. Ontem, a fala de Draghi não trouxe novidades tampouco novos indícios de estímulos monetários adicionais à região da moeda única.
Por ora, as principais bolsas europeias recuam, com os investidores absorvendo os dados sobre a inflação ao consumidor alemão em setembro e sobre a produção industrial na zona do euro no mês passado. Na Ásia, a Bolsa de Xangai registrou a maior queda em mais de uma semana, de -0,47%, ao passo que a de Tóquio teve leve alta de 0,03%.