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Mercados têm trégua


A trégua no noticiário político, em meio à negociação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com o Palácio do Planalto, soma-se à agenda econômica mais fraca, que também faz uma pausa hoje, abrindo espaço para os investidores recomporem o fôlego e ajustarem posições nos ativos domésticos. O movimento local deve receber impulso dos mercados internacionais, que tomam risco, após fracos dados econômicos em nível global esfriarem as chances de o Federal Reserve elevar os juros até o fim do ano.

Em uma tentativa de salvar seu mandato como deputado, dando como moeda de troca o abandono do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, Cunha reuniu-se ontem com lideranças do governo na Câmara e se comprometeu em ajudar a acelerar a tramitação de propostas do ajuste fiscal. Os projetos essenciais para o Planalto referem-se à desvinculação de receitas da União (DRU) para 2023 e, principalmente, à recriação da CPMF até 2019.

Além disso, Cunha teria fechado um acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros, para viabilizar a análise dos vetos presidenciais restantes em novembro – provavelmente em uma sessão conjunta na terceira terça-feira do mês. Em um almoço que contou ainda com a presença do vice-presidente, Michel Temer, ontem, os representantes do Congresso se comprometerem em mobilizar a base aliada a fim de viabilizar a manutenção dos vetos.

Porém, o presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PSD-BA), negou participar de manobras para proteger Cunha e acrescentou que o processo que pode levar à cassação do presidente da Casa deve acabar antes do fim do ano. Já a presidente Dilma Rousseff afirmou, também ontem, que não cometeu nenhum desvio de conduta e garantiu que "nunca vão encontrar" nada contra ela.

Hoje, Dilma tem uma agenda oficial mais leve, que traz apenas um almoço com as equipes masculina e feminina da seleção brasileira de vôlei de praia, às 13 horas. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não tem nenhum compromisso público, ao passo que as atividades do dia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda não estavam disponíveis.

O calendário econômico de indicadores também está esvaziado e traz, internamente, apenas a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, às 9 horas, referente ao mês de agosto. No exterior, a pauta europeia também está fraca, mas tem como destaque uma reunião do Conselho Europeu.

Já nos Estados Unidos serão conhecidos, às 9h30, os pedidos semanais de auxílio-desemprego; o índice de preços ao consumidor (CPI) em setembro e o índice Empire State de atividade em Nova York neste mês. Às 11 horas, é a vez do índice regional de atividade na Filadélfia também em outubro.

Por fim, às 12 horas, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país, além do orçamento do Tesouro em setembro. Na safra de balanços, destaque para os resultados trimestrais de Citigroup e Goldman Sachs.

À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York exibem ganhos acelerados. Aliás, o sinal positivo prevaleceu na Ásia e se espalhou pela Europa, em meio à especulação de investidores de que os dados econômicos fracos ao redor do mundo irão persuadir o Fed em adiar a primeira alta dos juros norte-americanos desde 2006 para o próximo ano. O próprio colunista do Wall Street Journal (WSJ), Jon Hilsenrath, admitiu que um aperto na taxa dos Fed Funds em 2015 tornou-se menos provável.

Nesta manhã, o juro da T-note de 10 anos volta a ser negociado na faixa de 2,00%, após o tombo da véspera, na esteira dos dados fracos sobre o varejo nos Estados Unidos. A decepção com o comércio varejista do país somou-se aos números igualmente desagradáveis sobre a inflação na China, levando os investidores a se importarem menos com o tom duro ("hawkish") de alguns membros do Fed e a apostarem, agora, que os juros só irão subir em abril de 2016. As chances de aperto neste mês caíram para 4%.

Essa perspectiva alimenta o apetite por risco no exterior, recebendo ajuda ainda do salto da Bolsa de Xangai para o maior nível em oito semanas, em meio aos sinais de reforma nas empresas estatais chinesas. O índice Xangai Composto subiu 2,3% hoje, fechando no patamar mais alto desde 21 de agosto, impulsionado pelas ações de telecomunicações, após o governo injetar US$ 36 bilhões em estações de base para formar uma nova empresa, chamada China Tower Corp.

Os demais mercados asiáticos também subiram, com Tóquio avançando 1,15% e Hong Kong ganhando 2,00%. Entre as moedas, a rupia da Indonésia lidera os ganhos ante o dólar, mas também é destaque o avanço pelo segundo dia consecutivo do dólar australiano ante o xará norte-americano. O rand-sul africano, a lira turco e o rublo russo também ganham terreno ante o rival, podendo ampliar a recuperação do real brasileiro hoje.

Contudo, o petróleo não consegue tirar proveito dessa desvalorização do dólar e tem ligeiras perdas nesta manhã, ainda sob efeito das especulações de que o excesso de oferta da commodity irá persistir. Já entre os metais, o precioso ouro está de lado, depois de subir ontem ao maior nível desde 29 de junho.

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