Economia e política de mãos dadas
A volta do feriado no Brasil pode ser de ajuste nos mercados, mas o Dia de Colombo, ontem, nos Estados Unidos manteve os negócios com bônus por lá fechado, enquanto as bolsas de Nova York tiveram leve alta e volume fraco. Nesta manhã, os índices futuros caem. Já o dólar atingiu o nível mais baixo ante uma cesta de moedas desde agosto, em meio a novos estímulos adotados na China e dados fracos sobre a balança comercial. Porém, o foco local volta a se dividir entre o noticiário econômico e político.
A presidente Dilma Rousseff reuniu ontem, pelo terceiro dia consecutivo, o núcleo duro do governo federal para discutir a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra o seu mandato na Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Eduardo Cunha, diz que decidirá sobre o tema ainda nesta terça-feira - apesar da pressão pelo seu afastamento do cargo.
A expectativa é de que o pedido dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, apoiado pelo PSDB, seja rejeitado, cabendo recurso ao plenário da Câmara, que precisa apenas da maioria simples para aprová-lo. A ideia é constranger o governo, em meio a denúncias de contas bancárias de Cunha na Suíça, adiando novamente os planos do presidente do Senado, Renan Calheiros, de convocar uma sessão conjunta para votar os vetos presidenciais.
Em contra-ataque, a Advocacia-Geral da União (AGU) se prepara para brigar no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o impeachment, caso Cunha acate outro pedido da oposição, que tem como base a rejeição das contas do governo em 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Já o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estuda pedir o afastamento e a prisão preventiva de Cunha.
Enquanto monitoram o vaivém vindo de Brasília - que conta também com uma reunião entre Dilma e seu vice, Michel Temer, às 9 horas - os investidores abrem o pregão ajustando-se ao desempenho no exterior. Ontem, a Bolsa de Xangai subiu 3,3%, com o maior giro em um mês, em meio às especulações de que o Banco Central chinês (PBoC) irá mexer no compulsório bancário após estender um programa-piloto sobre empréstimos, lançado no ano passado.
Hoje, o índice Xangai Composto teve ligeira alta de 0,16% por causa da cautela sobre a segunda economia do mundo, que mostrou queda nas importações pelo 11º mês consecutivo. Em setembro, as compras externas na China aceleraram o ritmo de queda e caíram 17,7%, em base anual, após terem recuado 14,3% em agosto. Ao contrário, as exportações cederam 1,1% no mês passado, ante recuo de 6,1% no mês anterior.
Por um lado, as importações refletem o tombo nos preços das commodities e uma fraca demanda doméstica. De outro, a moderação na queda das exportações mostra que a maxidesvalorização do yuan, em agosto, está impulsionando a competitividade dos produtos chineses. À noite, novos dados da China devem mostrar a inflação ao consumidor em queda.
Diante do ritmo lento da economia global, o ministro das Finanças do país, Lou Jiwei, afirmou que "ainda não é um bom momento para os Estados Unidos elevarem a taxa de juro". Já o vice-presidente do Federal Reserve, Stanley Fischer, disse que a economia norte-americana pode estar "forte o suficiente para merecer um aumento de juros ao final do ano".
Ainda assim, Wall Street começou a semana em alta, com o Dow Jones cravando ontem seu sétimo avanço consecutivo. Nesta manhã, porém, os índices futuros em Nova York recuam, sob efeito das commodities metálicas, que recuam após os dados chineses, e à espera dos balanços dos bancos, que serão conhecidos ao longo da semana.
O juro da T-note de 10 anos cai a 2,05% e o petróleo WTI subia a US$ 48 por barril, depois de registrar ontem a maior queda em seis semanas e relegando a previsão da Agência Internacional de Energia (AIE), de que o excesso de oferta da commodity irá persistir em 2016, diante do enfraquecimento da demanda.
Na agenda do dia, hoje saem os números trimestrais do JP Morgan. Amanhã, é a vez do Wells Fargo e Bank of America, enquanto na quinta-feira Citigroup e Goldman Sachs publicam seus resultados. Na sexta-feira, o radar se volta para a General Eletric (GE).
Entre os indicadores, o calendário está esvaziado nesta terça-feira e o destaque fica para o comércio varejista, no Brasil e nos EUA, ambos amanhã. Ainda por aqui, o IBC-Br, na sexta-feira, também merece atenção, além do IGP-10 de outubro, no mesmo dia. A arrecadação federal e o emprego formal (Caged) são esperados, sem data confirmada.
No exterior, destaque ainda para o Livro Bege do Fed (amanhã), os preços ao consumidor norte-americano (quinta-feira) e a produção industrial nos EUA (sexta-feira) e na zona do euro (amanhã). Aliás, as principais bolsas europeias recuam nesta manhã, com as perdas lideradas pelas montadoras e produtoras de matérias-primas, após os dados da China realimentarem preocupações sobre o crescimento econômico global.
No noticiário corporativo, destaque para o salto de quase 10% nas ações da SABMiller, após um acordo dos termos de compra feito pela Anheuser-Busch InBev, que subia 2,5%, mais cedo - e pode respingar nos papéis da AmBev brasileira. Ontem, o índice Europe Stoxx 600 encerrou a maior sequência de ganhos desde julho.