Reforma, emprego e indústria agitam a sexta-feira
A primeira sexta-feira do mês promete ser intensa, pois, a reforma política ficou mesmo para hoje e será anunciada às 10h30, em uma declaração à imprensa no Palácio do Planalto. Antes, às 9 horas, saem os números da produção industrial. Além disso, como acontece tradicionalmente, será divulgado hoje o chamado payroll, sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos. À espera desses números, que podem calibrar as apostas sobre os próximos passos do Federal Reserve, os investidores tomam um pouco de risco no exterior.
Essa disposição vinda dos mercados internacionais pode influenciar os negócios locais. Mas as atenções estão voltadas para Brasília, onde a presidente Dilma Rousseff reunirá todos seus ministros para acompanhar o anúncio, que ampliará de seis para sete os ministérios controlados pelo PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer. A decisão foi tomada ontem após reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele teria pressionado Dilma a fazer uma reforma com "lastro político", o que levou Jaques Wagner para a Casa Civil, dando mais espaço ao PMDB. No novo desenho da Esplanada, Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Helder Barbalho (Portos) e Henrique Eduardo Alves (Turismo) seguem nas Pastas. Ciência e Tecnologia e Saúde devem ser ocupados por nomes indicados pelo deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Outros oito ministérios serão cortados, totalizando 31.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, avalia que a reforma ministerial traz um fôlego ao governo, mas pondera que a situação pode voltar a degringolar em uma questão de tempo - caso a economia não dê sinais de melhora. Na agenda de indicadores econômicos, o destaque no Brasil fica com o desempenho da indústria em agosto.
A expectativa é de que a atividade tenha recuado pelo terceiro mês consecutivo, repetindo a magnitude da queda apurada em julho, em base mensal, de -1,5%. Se confirmada a mediana das projeções, será o sexto mês de resultado negativo na produção industrial desde o início do ano. Na comparação anual, a previsão é de recuo de 9,50%, na 18ª taxa negativa consecutiva nessa base.
Os dados oficiais serão divulgados pelo IBGE, às 9 horas. Já no exterior, os negócios com ações esperam em alta pelo payroll, que deve trazer mais um mês de sólida criação de emprego nos EUA. Diante da percepção de que o mercado de trabalho norte-americano irá sustentar o argumento do Fed de que a recuperação da maior economia do mundo está "intacta", as principais bolsas europeias e os índices futuros em Nova York avançam.
A expectativa é de abertura de 200 mil postos de trabalho em setembro, com a taxa de desemprego seguindo em 5,1%. O documento é o melhor termômetro sobre a temperatura da economia dos EUA e pode reaquecer a precificação quanto à primeira alta no juro norte-americano desde 2006 - afinal, a presidente do Fed, Janet Yellen, tem repetido que um aperto inicial deve ser promovido ainda neste ano.
Nesta manhã, a possibilidade de aumento nos Fed Funds em outubro girava na faixa de 20% e, para o último encontro do ano, em dezembro, estava em torno de 45%, chegando a 52% apenas em janeiro de 2016. A percepção de economistas é de que, se os EUA acumularem mais alguns meses de ritmo constante de geração de vagas, combinada com uma estabilização nos preços do petróleo e do dólar, o Fed, então, verá que é hora de agir.
Entre os bônus, o juro da T-note de 10 anos subia a 2,06%, de 2,04% ontem, sendo que a mesma oscilação estreita para cima era observada no rendimento do bund alemão e do gilt britânico de mesmo vencimento, a 0,56% e 1,67%, respectivamente. Nos mercados emergentes, a alta de 3,16% da Bolsa de Hong Kong, que voltou do feriado reagindo às ações do governo chinês para apoiar a economia, não conseguiu embalar os ganhos na região.
Durante a semana, Pequim reduziu o pagamento mínimo para a primeira compra de imóveis e cortou um imposto sobre a compra de veículos de passageiros. Porém, as bolsas da Coreia do Sul, Filipinas e Indonésia caíram cerca de 0,5%, cada. Tóquio, por sua vez, ficou de lado, com +0,01%. Entre as moedas, o baht tailandês estendeu as perdas até o nível mais baixo desde 2006, ao passo que o ringgit malaio seguiu em queda.
O rublo russo também perdia terreno ante o dólar, em meio ao pedido de cessar-fogo na Síria feito por EUA, o Reino Unido, França, Alemanha, Catar, Arábia Saudita e Turquia. Para essas nações, os ataques aéreos contra o presidente sírio, Bashar al-Assad, estão matando civis e correm o risco fomentar o extremismo.
Ainda na agenda econômica nos EUA, às 11 horas, saem as encomendas à indústria em agosto. Internamente, a Fipe informou, pela manhã, que seu IPC encerrou setembro com uma alta de 0,66%, ante taxa de 0,56% em agosto.