O peso da incerteza
Dados fracos de atividade na China e na zona do euro embutem um sinal negativo entre as bolsas e as commodities no exterior, mas os negócios no Brasil devem continuar reagindo à mais recente crise no país, que ontem culminou no avanço do dólar para perto de R$ 3,30. Já a Bovespa perdeu a faixa dos 50 mil pontos e passou a acumular perdas no ano, enquanto os juros futuros sofreram com a maior aversão ao risco.
E os mercados domésticos reabrem nesta sexta-feira, tendo para repercutir as declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, feitas ontem à noite. Em entrevista na TV, Levy disse que a economia parou de piorar, do ponto de vista estrutural, e está começando a melhorar.
Segundo o ministro, o governo federal "não jogou a toalha" ao reduzir a meta fiscal neste e nos próximos anos. "Ajustar a meta não quer dizer reduzir o esforço fiscal", afirmou Levy. Ele se mostrou ainda otimista em relação às negociações no Congresso e ao encaminhamento das demais medidas do ajuste, com os deputados e senadores devendo mostrar-se mais engajados com as propostas.
Já em teleconferência realizada junto a investidores estrangeiros, Levy mostrou-se otimismo em relação a manutenção do rating soberano do país. Para ele, a revisão na meta fiscal e a criação de uma cláusula de abatimento são medidas que têm foco em questões ligadas ao crescimento econômico - que é, afinal, a preocupação das agências de classificação de risco.
Essas declarações devem ecoar nos negócios locais hoje, relegando a agenda econômica de indicadores. Nesta sexta-feira, o calendário traz apenas as sondagens da FGV sobre o comércio e o consumidor, em julho. Pela manhã, a Fipe informou que seu IPC subiu 0,72% na terceira prévia do mês, de +0,57% na leitura anterior, ultrapassando as estimativas para o dado.
No exterior, a agenda norte-americana traz a leitura preliminar do mês do índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria (10h45) e também as vendas de imóveis novos em junho (11h). Na safra de balanços, saem os resultados trimestrais da Moody's e da American Airlines, entre outros.
O PMI industrial chinês abriu a rodada de divulgações do dia, com o indicador caindo à mínima em 15 meses, a 48,2, abaixo do resultado de 49,4 no mês anterior e contrariando a previsão de avanço a 49,7. O mais recente indicador sobre a segunda maior economia do mundo reforça a necessidade de Pequim em continuar dando apoio à retomada da atividade, que recentemente emitiu sinais de estabilização.
Em reação ao dado, os mercados na região da Ásia e do Pacífico caíram. A Bolsa de Xangai caiu 1,28%, mas avançou pela terceira semana seguida, enquanto a de Hong Kong perdeu 1,06% e acumulou desvalorização pela sexta semana consecutiva. Tóquio caiu um pouco menos, com -0,67%. A Bolsa de Sydney recuou 0,3%, sendo que o dólar australiano caiu à mínima em seis anos ante o xará dos EUA.
As commodities metálicas também têm queda acentuada, sendo que o cobre e o alumínio são negociados nos menores preços em anos. Esse comportamento dos metais básicos atinge as ações de mineradoras listadas na Europa, fazendo com que a Bolsa de Londres passe a acumular perdas na semana.
As perdas nas bolsas da região são potencializadas pela decepção com a queda do índice PMI da zona do euro no dado preliminar do mês. A leitura da indústria ficou em 52,2, de 52,5 em junho e ante previsão de estabilidade no dado.
Já o PMI de serviços dos países do bloco da moeda única caiu mais que o esperado, a 53,8, de 54,4, no mesmo período e ante expectativa de recuo mais modesto, a 54,3. Em reação, o euro perde terreno ante o dólar. A moeda europeia monitora também o início das negociações entre a Grécia e seus credores internacionais. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), as partes já estão prontas para iniciarem as tratativas.