Super sexta-feira
Antes de anunciar o tamanho do corte de gastos no Orçamento deste ano, na tarde desta sexta-feira, o governo federal decidiu por elevar a taxação sobre o lucro dos bancos, via a alíquota de CSLL, de 15% para 20%. A medida, que deve ser publicada hoje no Diário Oficial da União, irá reforçar a arrecadação em até R$ 4 bilhões por ano e será usada como discurso político, de que o ajuste fiscal também atinge o chamado “andar de cima”.
Além disso, o aumento do imposto que afeta os ganhos de instituições financeiras está alinhado à fala do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que quanto menor o contingenciamento de despesas, maior a necessidade de elevar tributos. E essa perspectiva vem trazendo receios nos mercados domésticos.
Ontem, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o corte de gastos de 2015 “não vai ser pequeno” e que o governo fará “uma boa economia”. Desse modo, o valor pode mesmo ser entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões. Nesta manhã, na imprensa, fala-se em R$ 69 bilhões, o que seria o maior corte da era petista.
Ainda na quinta-feira, Dilma também fez questão de garantir que nenhum contingenciamento paralisa o governo, embora o bloqueio de recursos atinja todas as áreas. Ela não quis fazer nenhum prognóstico sobre a votação das Medidas Provisórias (MPs) do ajuste, mas pediu pela aprovação.
Aliás, o anúncio sobre o corte no Orçamento deste ano, confirmado para hoje às 15 horas, ocorre a contragosto do governo. Afinal, o Palácio do Planalto esperava anunciar o contingenciamento tendo já aprovada, na Câmara, a MP sobre a desoneração da folha de pagamentos - que foi adiada para o dia 10 de junho; e, no Senado, a primeira medida do ajuste fiscal, a MP 665, que dificulta o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial - mas que ficou para a semana que vem.
Diante das incertezas da aprovação das MPs do pacote da equipe econômica no Congresso, o mercado financeiro espera um corte mais próximo do teto e também do desejo de Levy. A agenda do dia do ministro não estava disponível até o início desta manhã. Já Dilma tem compromisso apenas com o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, às 18h30.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tomini, e o diretor de política econômica, Luiz Awazu, seguem no seminário sobre metas de inflação. Falando nela, hoje será conhecida a prévia de maio do índice oficial de preços no Brasil, o IPCA-15. Com alívio de passagens aéreas e preços administrados, o índice deverá mostrar forte desaceleração neste mês em relação à taxa de 1,07% apurada em abril. As estimativas variam de 0,50% a 0,66%, com mediana de 0,59%.
O dado será divulgado às 9 horas pelo IBGE e, juntamente com os discursos das autoridades monetárias brasileiras, pode calibrar as apostas sobre o ciclo de aperto da Selic. É válido citar que a curva de juros futuros vem sendo influenciada pelos rumores de que o BC não tem mais um teto para o juro básico, até que a inflação volte ao centro da meta.
Nos Estados Unidos, o dia também é de divulgação de inflação ao consumidor (CPI), às 9h30, combinado com um discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, por volta do meio-dia. Na pauta do evento, que acontece em Rhode Island, ela deve falar sobre economia e os investidores seguem ávidos por pistas sobre quando deve ser a primeira alta dos juros norte-americanos desde 2006.
Um dia após encerrar a sessão regular com ganhos, sendo que o S&P 500 renovou novo recorde de alta, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água nesta manhã, com ligeiro viés de baixa. Já o juro da T-note de 10 anos ronda a faixa de 2,17%, enquanto o petróleo WTI oscila em baixa na marca de US$ 60 por barril.
Na Europa, os bônus do governo da Alemanha avançam pela primeira vez em três dias e caminham para interromper uma sequência de quatro semanas seguidas de queda, encerrando uma semana turbulenta na qual o Banco Central Europeu (BCE) reiterou seu compromisso com o programa de compra de ativos, em meio aos sinais de uma recuperação econômica desigual. O euro, por sua vez, segue firme e é negociado a US$ 1,12.
Nesta manhã, foi anunciado que o Produto Interno Bruto (PIB) alemão expandiu-se em um ritmo mais lento nos três primeiros meses deste ano, em +0,3%, dentro do esperado. No último trimestre do ano passado, porém, a maior economia da Europa havia crescido 0,7%, em dados sazonalmente ajustados.
O índice IFO, também conhecido logo cedo, turvou o cenário para este segundo trimestre, já que o sentimento econômico na Alemanha caiu em maio, pela primeira vez desde outubro de 2014. O índice recuou a 108,5, de 108,6 em abril, mais que a previsão de queda a 108,3.
Em reação a esses dados, as principais bolsas europeias exibem perdas nesta manhã, com os investidores também monitorando o drama da dívida da Grécia. Novamente na contramão dos demais pares, a Bolsa de Atenas subia, mais cedo, em direção ao maior nível desde o início de março.
O país mediterrâneo segue nos holofotes hoje, neste segundo dia de encontro dos líderes europeus em Riga. Ontem, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a Grécia precisa fazer mais esforços para que sejam liberadas recursos ao país, à medida que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, falhou em produzir qualquer sinal de progresso. A expectativa, agora, é de que um acordo seja alcançado nos próximos 10 dias.
Por fim, na Ásia, destaque para o rali das bolsas da China, com +1,71% em Hong Kong e +2,84% em Xangai, que saltou para uma máxima desde 2008 e registrou o melhor ganho semanal em cinco meses após fracos dados da semana ampliarem especulações de que Pequim pode adotar mais medidas para estimular a segunda maior economia do mundo.