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Fed e Copom, uma semana depois


Agora que a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, alertou para os riscos relacionados aos preços “bastante elevados” das ações, e que o Banco Central do Brasil postergou para o fim de 2016 a convergência da inflação à meta de 4,5%, sinalizando que ainda deve elevar mais os juros básicos no país, é preciso ler esses discursos com lupa para tentar entender como ficam os mercados domésticos.

Isso porque com a Selic para além de 13,25%, o diferencial de taxa em relação ao restante do planeta, onde o juro básico segue perto de zero em muitos países, atrai capital especulativo, trazendo pressão de baixa sobre o dólar. Porém, o real mais forte deixa a Bolsa brasileira “mais cara” para o investidores estrangeiros que, por ora, vem sustentando um rali entre as ações.

O analista técnico Gilberto Coelho lembra que, recentemente, a Bolsa brasileira vivenciou um “período incomum”, com os estrangeiros aproveitando o salto do dólar, da mínima em R$ 2,80 para além de R$ 3,10, que deixou o Ibovespa “mais barato”. Embalada pelo ingresso contínuo de capital externo - que só registrou saída em abril no dia 30, resultando em um superávit recorde para o mês - o principal índice acionário à vista rompeu a média móvel de 200 dias, a famosa MM200.

Isso em um momento em que os aportes oriundos do risco de Wall Street tendem a migrar para outras bolsas de valores do mundo, diante não só do alerta de Yellen, agora, mas também da iminência do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos.

Entre os BRICS, a China já parece não ser mais atrativa para esses recursos, com o maior rali global do ano dando sinais de cansaço; a Rússia também parece já estar “no preço” diante das incertezas sobre sanções, ao passo que a Índia tende a atrair mais capital externo, com o crescimento econômico na maior democracia do planeta podendo passar o chinês pela primeira vez desde 1999.

No Ocidente, a maior economia emergente, o Brasil, também tende a chamar atenção dos investidores estrangeiros. Mas enquanto o Banco Central da Índia (RBI), comandando pelo ex-FMI Raghuram Rajan, deu início a um ciclo de queda dos juros; o Brasil tende a seguir no topo da lista de maior pagador de juros reais do mundo.

Assim, os “gringos” começaram maio alocando recursos. Na Bovespa, após o saldo recorde em abril, os aportes externos apenas nos dois primeiros dias do mês já somam R$ 1,2 bilhão, sinalizando que os estrangeiros tendem a manter o ritmo de compra de ações. Já na renda fixa, o Copom simplesmente reforça o cenário de alta, com as taxas de juros futuros pagando prêmios cada vez mais elevados, sobretudo no longo prazo.

Nesta quinta-feira, após uma sessão volátil, o dólar encerrou em queda ante o real, cotado a R$ 3,02, ajudado pelo perspectiva de fluxo trazida pelo Copom e ainda pela aprovação, ontem à noite, na Câmara dos Deputados, do texto principal da primeira medida provisória no âmbito do ajuste fiscal. Contudo, analistas veem pouco espaço para quedas mais firmes do dólar, com a moeda buscando uma taxa de equilíbrio na faixa de R$ 3,00, principalmente diante da menor atuação do BC no câmbio. Ainda assim, níveis mais previsíveis e estáveis no câmbio tendem a ser mais confortáveis para o ingresso de capital externo.

O Ibovespa, por sua vez, chegou a ensaiar ganhos logo no início da sessão, mas sucumbiu ao menor apetite por risco no exterior e fechou em baixa hoje de 0,3%, abaixo dos 57 mil pontos. Já as bolsas de Nova York conseguiram interromper as duas quedas seguidas e subir cerca de 0,5%, nesta véspera de divulgação de dados sobre o emprego nos Estados Unidos.

Aliás, o presidente da distrital de Chicago do Fed, Charles Evans, afirmou, pela manhã, que os investidores deveriam “se acostumar” com alertas do BC dos EUA sobre os mercados financeiros. Para ele, a “mensagem maior” de Yellen, ontem, era de que os riscos à estabilidade financeira estão moderados e é “incumbência” do Fed enfrentar eventuais riscos de instabilidade que venham a surgir.

Por isso, apesar do alerta de Yellen, que serviu como senha em Nova York e na Ásia para “sell in may and go away”, e dos sinais gráficos da Bovespa, com os índices de força reforçando a visão de forte realização de lucros, a luta da Bolsa brasileira pode não ter sido em vão. Para o analista Gilberto Coelho, o momento é de cautela e são os próximos pregões que irão dizer se é só correção ou retomada de baixa.

Portanto, permanecem as dúvidas sobre se os “exageros” do rali nas bolsas globais precisam passar por uma forte correção ou se Wall Street pode andar de lado até o restante do ano, esperando que a economia norte-americana recupere o atraso. Nesse ponto, a reação ao relatório de trabalho (payroll), amanhã, vai depender se os investidores consideram que uma leitura forte é uma boa notícia porque a economia está indo bem ou se pensam que uma leitura fraca é uma boa notícia porque as taxas de juros nos EUA permanecerão baixa por mais algum tempo. A conferir.

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