Mercado testa otimismo
O mercado financeiro testa o otimismo com o acordo comercial entre Estados Unidos e China, após a permanência das tarifas norte-americanas em produtos chineses manter dúvidas quanto ao crescimento econômico global. No Brasil, a frustração com dados de atividade também dilui a confiança quanto à retomada firme da economia doméstica.
Os números negativos dos setores industrial e de serviços em novembro somados às vendas fracas no varejo durante o mês da Black Friday diminuiu o bom humor dos investidores com a recuperação econômica na virada do ano. Os números estão longe de reverter uma tendência, mas reforçam que o ritmo da economia segue lento.
Ou seja, não há sinais de aceleração do crescimento econômico neste início de 2020, uma vez que a demanda segue fraca e os investimentos, escassos. Ainda assim, é preciso verificar o que apontam os indicadores referentes ao mês de dezembro que, se vierem igualmente fracos, podem colocar em xeque o cenário doméstico mais otimista.
Em reação aos dados mais recentes, o Ibovespa caiu pouco mais de 1% ontem, diante da perspectiva de que a atividade ainda fraca pode comprometer o resultado das empresas, e o dólar subiu para além da marca de R$ 4,15, em meio à chance maior de novo corte na Selic em fevereiro, com o Banco Central dando continuidade aos estímulos monetários.
Hoje, o BC anuncia, às 9h, seu indicador de atividade econômica (IBC-Br), que compila o desempenho dos setores produtivos, na ótica da oferta. Após a frustração com o resultado da indústria, do varejo e dos serviços em novembro, a previsão é de ligeira queda (-0,2%) em relação a outubro e pequeno avanço (+0,5%) na comparação anual.
Atividade em destaque
Aliás, a agenda econômica desta quinta-feira está carregada de indicadores de atividade. O destaque fica mesmo reservado para o fim do dia, quando a China anuncia o desempenho da economia no quarto trimestre do ano passado e no acumulado de 2019. A previsão é de desaceleração em relação a 2018, mas com expansão dentro da meta entre 6% e 6,5%.
Juntamente com os números do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, sai o resultado dos setores industrial e de serviços em dezembro, além dos investimentos fixos. Já nos EUA, merecem atenção as vendas do varejo durante o mês do Natal, às 10h30. A previsão é de alta de 0,4%, com o consumidor mantendo o ritmo de compras.
No mesmo horário, ainda nos EUA, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego, o índice industrial na região da Filadélfia, além dos preços de importação e de exportação em dezembro. Depois, às 12h, é a vez dos estoques das empresas em novembro e do índice de confiança das construtoras em janeiro. Por fim, às 18h, sai o fluxo de capital estrangeiro.
Na safra norte-americana de balanços, o Morgan Stanley publica seus resultados. Na Europa, o foco fica nos eventos envolvendo o Banco Central Europeu (BCE), com a divulgação da ata (9h30) e discurso da presidente, Christine Lagarde (15h). Durante a manhã, no Brasil, além do IBC-Br, às 9h, sai o primeiro IGP deste mês, o IGP-10, às 8h.
Exterior à deriva
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram no positivo, um dia após o Dow Jones encerrar acima dos 29 mil pontos e o S&P 500 renovar a máxima histórica. Já na Ásia, a sessão foi mista. Xangai caiu (0,5%) e Tóquio e Hong Kong fecharam com leves altas, de +0,1%, cada. As principais bolsas europeias estão na linha d’água.
Nos demais mercados, o petróleo avança, mas o barril do tipo WTI segue abaixo de US$ 60, enquanto o dólar está de lado. Os investidores esperam que a fase um do acordo comercial melhore as relações entre EUA e China, lançando luz para a próxima etapa de negociação, que só deve trazer novidades após as eleições presidenciais norte-americanas.
Até lá, os EUA vão manter em vigor a maior parte das tarifas cobradas a mais em US$ 360 bilhões de produtos chineses desde março de 2018. A China, por sua vez, também manterá bilhões de dólares em tarifas retaliatórias sobre produtos norte-americanos e continuará adotando outras políticas que desagradam Washington.
O governo chinês deve continuar subsidiando as empresas de tecnologia do país e impulsionando políticas industriais ambiciosas, que Pequim apoia para transformar a China em uma força global tecnológica e industrial no século 21. Assim, o pessimismo em relação às resolução de questões delicadas entre EUA e China permanece.
E, por mais que a fase um do acordo comercial represente um passo significativo na disputa entre as duas maiores economias do mundo, dissipando uma nuvem negra sobre o crescimento econômico global, existem pressões persistentes e pontos de tensão inevitáveis entre EUA e China que podem criar mais atritos entre os dois países.